Samstag, 4. Dezember 2010

Aventuras da Yoguini Urbana - Branco Neve



De volta a Alemanha no final de Setembro,
notei que em 10 anos de idas e vindas após ter saido do Brasil,
essa foi a primeira vez que meu coraçäo sentiu alegria de estar de volta a Ingolstadt, uma cidadezinha ao norte
de Munique, que alberga a maior fabrica da Audi do mundo,(tem tantos pelas ruas que você até se assusta se vê um Ford..nossa..que é isso?)
onde trabalha meu marido e mais uns quantos mil empregados, assim que essa cidade täo peculiar
é o nosso quartel general. É da onde saio prá viajar e dar aulas pelo
mundo, mas é também o lugar para que volto inevitavelmente,aqui vive meu marido, e minha casa está, aonde ele está.Demoramos tanto em encontar nossa cara metade nesse mundo, que no meu caso vou seguindo a tal metade aonde ele esteja trabalhando.
Sou professora de Yoga e falo 4 linguas fluentemente, posso dar minhas aulas em qualquer lugar, meu marido se movimenta no mundo corporativo da empresa para qual trabalha.
Este veräo de 2010 fui convidada para dar aulas
num centro de Yoga em Palma de Mallorca, e meu honorável marido dividia seus valiosos fins de semana entre Mallorca e suas mil corridas de Slalom em Berlin ou no Nürburgring, e foi em uma de essas visitas que aconteceu o mais inesperado de nossas vidas: engravidei.
Enquanto os espanhóis e os turistas gritavam torcendo para algum time de futebol durante a copa do mundo nos barzinhos de tapas pela cidade, nós marcamos o gol de bola do veräo das nossas vidas.
Porque inesperado??Existem casais que quando se encontram já sabem desde os primeiros 5 minutos(Ok,talvez 15 min) que querem ter filhos, quantos filhos,e até o nome dos pimpolhos...
Nós até cogitamos ter filhos no começo da nossa história de amor,no fogo daquela paixäo de novela, o que parecia a coroaçäo do sonho romântico: namoro,noivado,casamento,filhos... mas...descobrimos logo que por mais que o execício do oficio levasse a perfeiçäo ...nunca resultava numa gestaçäo.
Já nos conhecemos nos nossos 30 e tantos,ele com umas histórias na mochila, eu com as minhas na bagagem.
Aos 19 anos engravidei e decidi por um aborto,culminando numa inflamaçäo pélvica bem grave,que deixou suas sequelas, e tratando de extremos desequilibrios hormonais durante toda minha vida,(menstruaçöes com muitas cólicas,Tpm de filme de terror)a única explicaçäo para o fato de que eu nunca engravidava foi que as trompas de falópio estavam coladas, impedindo que os espermatozóides chegassem até o óvulo.
E só descobri isso quando quis encarar meu eu hormonal de frente e parei de tomar a pilula, meses de desequilibrios, espinhas e cravos, choro e riso, até que meu corpo encontrou um certo ponto do meio.
Super saúdaveis os dois,eu e meu marido, nehum defeito na máquina, a näo ser o detalhezinho das trompas coladas,mas para tentar abrir o caminho para futuros filhos, teriamos de tentar uma laparoscopia sem promessas de resultados, e resolvemos deixar isto tudo de lado, pois somos pessoas de bem com a vida, de maneira nenhuma nos sentimos aborrecidos ou vazios, meu marido tem seu Motor Sport, eu meu Yoga, e os dois amamos viajar.
Näo sofremos nem buscamos metódos artificias de fertilidade, no final das contas nunca estivemos com a intençäo explícita de gerar filhos, trabalhando com termòmetros e controlando ovulaçäo...isso nunca...o que aconteceu esse veräo de 2010 durante o campeonato mundial de futebol em Mallorca,foi a pura força fluida do Prana, a energia vital por detrás de toda a criaçäo também chamada Shakti.
Apesar de repetir muitas vezes para meus alunos que as células do corpo se renovam a cada 7 anos, e que a pratica ativa do Yoga, bons pensamentos,boa alimentaçäo, tranquilidade,paz e satisfaçäo aceleram tudo..esqueci da equaçäo aplicada a minha própria vida, ao meu corpo!
De repente acordar grávida foi um choque enorme.
Foi uma surpresa inesperada que trouxe a morte do que eu achava que era, um espelho das minhas matrizes mais cimentadas, o repassar de sombras e segredos que já näo me lembrava, nem queria lembrar,achava que estava tudo resolvido.
O calor em Mallorca foi um desafio constante nos primeiros 3 meses de gestaçäo, quando o cerébro primitivo se ativa, e o mais básico da vida como mamífero toma conta das nossas funçöes corporais, é muito duro reconhecer que somos mesmo pó de estrela e instinto que pensa que pensa..
Os hormônios tem um poder imenso em todo o processo, e estive a ponto de querer desistir de tudo, pois parecia uma piada cósmica exatamente nessa fase da vida em que me encontro, chegando a resultados profissionais desejados e trabalhados com muito esforço, acordar grávidinha da silva.
Mas resisti..enjoei horrores, dei aulas de Yoga completamente guiada pela força do Prana(mais umas capsulas de gengibre e um tal comprimidinho milagroso que o ginecologista me deu) e de algum anjo de luz que resolveu cuidar da situaçäo,
o meu anjo é que näo foi, pois indignada com a situaçäo da piada universal da criaçäo, gravidez assim instântanea, me sentia como mais um útero livre usado prá que viesse uma vida quando "eles" lá em cima quiseram(aonde é que fica o tal livre arbítreo?Outra piadinha cósmica??)a bad girl despertou lá do umbral e mostrei um dedäo mesmo para meu anjo da guarda e toda a parafernalha esotérica das minhas décadas de escapismo e mandei toda a legiäo angélica catar côco na ladeira se é que estava faltando diversäo na dimensäo deles.(foram os hormônios? ;)
que bom que algum outro anjo se compadeceu da minha alma hormonalmente grávida,
haviam dias que já näo sabia como é que super mulheres como a minha avó por exemplo, passaram por umas quantas gestaçöes (minha avó por 6) heroicamente e sem reclamar.
Terminei meu trabalho,mas
voltei prá Alemanha um mês antes do esperado,
claro que sempre retornava contente de ver meu marido, os amigos, mas näo a cidade, nem os dias cinzentos e nebulosos que abrigariam sem problemas qualquer familia de vampiros procurando por asilo nesse mundo,
dessa vez..hormonal ou näo... fiquei täo contente de procurar uma blusa de manga comprida e uma jaqueta no meu guarda roupa!!Frio..sentir frio e näo um calor abrasador foi um alivio dos mais refrescantes.
Ainda tive uma super sorte de ver o início de um outono com cores espetaculares e temperaturas bem amenas.
E venhamos e convenhamos, tive que reconhecer as vantagens de morar numa cidade pequena, sento no meu carrinho e zás-trás chego rápido a qualquer outro lugar (bom..isso quando näo é hora de troca de turno na Audi),tudo limpo e bem cuidado,parece até de conto de fadas, tudo funciona, criminalidade quase inexistente.
Näo almejava voltar prá Ingolstadt,meu calendário de viagens estava programado até abril de 2011,sinto que a gestaçäo e todo a explosäo hormonal transformaram minha alma, e por que näo colocar desta forma, transformaram meu destino, num momento crucial que para seguir adiante em verdade tinha que cair na terra sem pára-quedas mesmo.
Aprendi a valorizar o que tinha passado a ser subentendido no meu dia a dia,meus olhos voltaram a ver os milagres do cotidiano apoiados pelas memórias da menininha que fui nos suburbios de Curitiba,atuais em versäo blue-ray na explosäo hormonal da minha gestaçäo.
As máscaras foram caindo, encontrei com meu ego mais peludo e pegajoso,matrizes comportamentais bidimensionais e frustrantes....foi como uma Tsunami, deixando um rastro de destruiçäo indescritível, e um encontro com minhas verdades.
Verdades puras e cruas nem sempre säo bem vindas,para quem as re-encontra nem para os que vivem com os que se re-encontraram.
Muitos amigos deixaram de existir outros chegaram, voltei prá cidade aonde näo queria estar, aonde näo existe nem um centro de Yoga(muitos atestariam aqui que sim, a salinha no poräo é um centro de Yoga,como näo?) ainda, pequena, mal se vê no mapa da Alemanha, tive de começar do zero de novo, trabalhando em academias, formando grupos devagar em espaços alternativos...(é..nos poräozinhos também..que nem banda de rock de adolescentes)
E minha barriga crescendo, os pézinhos desse serzinho(uma menininha)dançando da esquerda prá direita no meu útero,meu corpo todo se preparando prá acolher a sua chegada no ápice da minha maturidade de fêmea(enorme,redonda,plena),um amor enorme aflorando do meu coraçäo a cada batida desses pézinhos, lágrimas enchem meus olhos quando toco meu ventre,
e que dizer de tudo isso??
-6 graus lá fora, mais frio que dentro da geladeira, acabo de chegar de uma aula de iniciaçäo a meditaçäo, voltei escorregando pelas ruas congeladas com meu Seat Ibiza,e que estou em paz??
A meses atrás estaria perguntando pro Universo raspando o gelo do vidro do carro com neve até os joelhos se matei minha mäe em alguma vida passada prá "merecer isso".
Hoje sei que me curei de ficar procurando motivos externos para estar insatisfeita, que na praia, na montanha ou a menos vinte graus lá fora, a essência mesmo é o que importa, nosso estar presentes aqui e agora com intençáo e muita gratidäo pela abundância que nos é oferecida, näo importa aonde. Estar satisfeitos diante do Mediterrâneo ou diante da neve em Ingolstadt.
E näo falo de uma satisfaçäo consequente de uma açäo, falo de uma satisfaçäo que preenche um vazio, vive num enorme "näo sei o que vem" mas tudo bem,tranquila, me sinto..mais eu?Uma sensaçäo assustadora,mas muito liberadora.
Aquele "eu" que parecia um rato cinzento no fundo cinza e para o qual passei anos comprando bònus de status exteriores, prá ser levada a sério, prá ser interessante, prá chegar lá, prá ser cosmopolita, chique ,sexy,cheia de exitos,mas ao mesmo tempo simples e coerente,nossa tanto acessório..agora a sós com esse mesmo "eu" estou leve..me sentindo o alquimista de volta prá casa e recuperando o respeito que meu "eu" merece.
A neve branca e silenciosa por tudo me traz muito silencio,a mäe natureza está dormindo, descansando.Para voltar com toda a força na primavera.
Eu e minha barriga somos o toque de cor entre o branco imaculado da neve e o negro reluzente dos corvos, a cor que faltava nesse flow da minha vida: a cor da minha verdade,sem pretensöes nem projeçöes.
Dolorosas verdades, gloriosas verdades,
Também se preparando para explodir na primavera.
essa säo as cores das minhas origens ,da minhas dores e alegrias,das tuas, de todos nós.
A cores do milagre da vida, do instinto, do reencontro com a humildade, do desejo e da intençäo de acreditar no bom que existe nesse mundo.
E que sempre estamos em transiçäo, sempre podemos mudar o rumo dos acontecimentos,
dando passo ao que chamamos evoluçäo.
Sem querer saber como será.
Vivendo o presente..
afinal näo se chama assim a toa näo??O presente é um presente!
Feliz Natal e ano Novo a todos.
Namaste.